Do site www.pracadacultura.com
O assassinato do padre Josimo, assim como tantos outros crimes fizeram Imperatriz ser conhecida de "capital da pistolagem" nos anos 80.Em razão de sua grande repercussão, um dos episódios que mais estigmatizaram Imperatriz como VIOLENTA que não se resumiu a um só crime, e sim a vários, na forma de chacinas, também ajudou a impregnar a marca de violência na cidade: a famigerada “Operação Tigre”.
Comandada pelo então delegado regional de Imperatriz Luís Moura (hoje preso em São Luís na companhia de sua mulher e cúmplice Ilce Gabina) e pelo coronel José Rui Salomão Rocha (que morreu na terça-feira, em Fortaleza), a “Operação Tigre” foi desencadeada em 1990 em Imperatriz e municípios vizinhos, a pretexto de combater ao banditismo.
Sabe-se que vários pistoleiros e assaltantes foram presos ou mortos na operação, que recebeu do então governador João Alberto “carta branca” para agir. No entanto, até hoje nunca se apurou a fundo quantos foram torturados ou mortos na condição de simples suspeitos.
Éssa história poderia começar a ser passada a limpo pelo Ministério Público e pela sociedade civil organizada, para que nunca mais Imperatriz tenha o título de “capital da pistolagem” e comece a ser conhecida como “capital da paz”.
Segue abaixo texto muito esclarecedor publicado em 2005, quando da morte do coronel José Ruy Salomão Rocha, chefe da famigerada operação no Maranhão.
O SILÊNCIO FINAL DO "TIGRE"
Por WALTER RODRIGUES S. Luís (MA), 4/12/2005
Colunão: Walter Rodrigues
Morreu do coração na última quinta-feira (29), em Fortaleza, Ceará, um dos homens mais duros, valentes e controversos da Polícia do Maranhão. Chefe militar e símbolo da mais famosa operação de extermínio de bandidos já realizada no Brasil, a Operação Tigre, ordenada em 1990 pelo ex-governador João Alberto (PFL, hoje no PMDB), o coronel José Ruy Salomão Rocha levou para o túmulo alguns segredos que possivelmente nunca serão revelados.
Um deles: quantas pessoas realmente foram mortas pela PM e pela Polícia Civil na operação? Até que ponto o Governo sabia das chantagens, extorsões e roubos de carros praticados pela equipe do delegado Luiz Moura naquele período? Quantos sabiam que parte da PM usava a operação de “combate ao crime” para cometer homicídios de aluguel e assaltos também?
Quem patrocinou e em que exatos termos o pacto de não-agressão entre João Alberto e o prefeito David Alves Silva – na época o chefe no 1 da pistolagem e do crime organizado no Maranhão –, interrompendo uma escalada que levou o primeiro a ordenar a morte do segundo, num ato de autodefesa preventiva?
A história da Operação Tigre pode ser contada desde os governos João Castelo (1979-82) e sobretudo Luiz Rocha (1983-86), quando a pistolagem grassou como uma praga no interior do Maranhão e até na capital. “O pior foi no governo Luiz Rocha”, conta o repórter policial Tony Duarte, ele próprio vítima de um atentado em 24/5/1996. “Conhecidos pistoleiros freqüentavam até o Palácio dos Leões”. Foi a época de maior prestígio e desenvoltura do deputado José Gerardo, dos quadrilheiros Humberto Gomes de Oliveira (Bel), e Joaquim Laurixto (filho de ex-guarda-costas do senador Sarney), e de muitos outros sanguinários personagens do submundo político e empresarial maranhense.
Uma das razões da proliferação da pistolagem no governo Rocha foi que o então secretário de Segurança, coronel João Ribeiro Silva Júnior, inimigo feroz dos posseiros e dos sem-terra, favorecia a expansão da violência no campo, e conseqüentemente o mercado dos sicários. Tantas fez o coronel que acabou excomungando não somente a si como ao secretário estadual da Fazenda, Nelson Frota – dito “secretário das fazendas” pelos adversários – e ao próprio governador. A declaração à comunidade católica saiu assinada pelos onze bispos da Província Eclesiástica do Maranhão, sob a liderança do arcebispo metropolitano dom João José da Motta e Albuquerque.
Combater a pistolagem e tirar a polícia dos conflitos fundiários foi uma das promessas de campanha do sucessor de Rocha, Epitácio Cafeteira (PMDB), empossado em 1987. “Tirar a polícia” significava simplesmente impedi-la de continuar exercendo o papel de força auxiliar e oficial do latifúndio e da grilagem. Combater a pistolagem implicava antes de tudo em desafiar seus chefes mais conhecidos, acima de todos o prefeito de Imperatriz, Davi Alves Silva.
Cafeteira cumpriu a primeira parte. Os trabalhadores rurais continuaram em desvantagem, mas, sem a Polícia para intimidá-los, ao menos puderam reagir em algumas partes do Estado. Matou-se, então, de ambos os lados. No Vale do Buriticupu, zona de graves litígios, a valentia e a inteligência do grupo de Luiz Vila Nova, adiante deputado estadual pelo PT, pôde enfim iniciar, na marra e na manha, uma pequena reforma agrária.
Mas o combate à pistolagem avançou muito pouco. Eleito prefeito de Imperatriz em 1988, principal cidade do interior, Davi aumentou seu poder de fogo e sua popularidade. Dava-se até ao luxo de ser oposição ao sarneísmo dominante, em aliança com a dissidência ex-sarneísta liderada pelo ex-governador João Castelo. Ninguém ousava mexer com ele.
Em abril de 1990, porém, Cafeteira passou o governo ao vice João Alberto e meses depois celebrava acordo eleitoral com Castelo contra o grupo de Sarney. Dali a seis meses Castelo disputaria o Governo com o candidato sarneísta Edison Lobão (PFL).
Estava com tudo. Collor era o presidente recém-eleito, após agressiva campanha em que prometera enfiar Sarney “na cadeia”. Em São Luís, Castelo juntava sua popularidade à de Cafeteira, campeão de votos na capital. Davi garantia a praça de Imperatriz. Visto daquele abril, parecia impossível detê-lo, fosse quem fosse o candidato sarneísta.
Carcará em ação –– Foi aí que João Alberto entrou em cena, com seu voluntarismo implacável e ilimitado. Sua ação conduziu-se em três vertentes. Na capital, diminuiu no que pôde a imensa vantagem de Castelo, realizando pequenas e médias obras que Cafeteira se esquecera de fazer. No plano político, aproximou-se da igreja progressista e da esquerda, mandou caçar pistoleiros à bala nas zonas de conflito fundiário (salvo onde eram protegidos de seus correligionários), deu dinheiro a sindicatos, e negociou secretamente com o prefeito da capital, Jackson Lago, e com o PSB de Conceição Andrade. Com isso facilitou a transferência em massa do eleitorado de esquerda para Lobão no segundo turno.
Isso era muito mas não bastaria. Lobão e João Alberto só venceram a eleição porque o governador estabeleceu uma espécie de estado de sítio informal na região de Imperatriz – com extensões ao Vale do Mearim e outras partes do Estado –, autorizando a PM a liquidar quantos pistoleiros e assaltantes conseguisse identificar. A operação especial foi confiada a José Ruy Salomão Rocha, apelidado Tigre na corporação. O comando civil ficou com o delegado Luiz Moura, conhecido torturador e meliante, atualmente cumprindo pena de prisão por um de seus inúmeros crimes.
Os dois e mais o atual coronel Nogueira do Lago, então comandante do batalhão de Imperatriz, mataram tanto bandido que até hoje muita gente os admira na região. Decano dos comentaristas políticos do município, o jornalista Jurivê Macedo registrou a morte do Tigre no Estado do Maranhão escrevendo que nenhuma das vítimas da polícia era inocente. Há prova arrasadora em sentido contrário, inclusive um inquérito policial-militar. Nele fica provado que um grupo de policiais mercenários seqüestrou e assassinou os irmãos Noleto, que não tinham nenhum antecedente criminal. Num determinado instante, até a Associação Comercial de Imperatriz, naturalmente propensa a aplaudir “medidas enérgicas” de segurança, protestou contra as arbitrariedades da operação. Que mais não foram porque Salomão e Luiz Moura entraram em conflito com o comandante do 50o Batalhão de Infantaria da Selva (50 BIS), coronel Guilherme Ventura, mais tarde comandante da PM e secretário de Segurança, hoje secretário regional de Imperatriz. Direitista assumido e sem grande apreço pelas formalidades legais, Ventura também detestava o bando de Davi, mas logo compreendeu que Luiz Moura não era melhor que o prefeito. Quando secretário, fez com que fosse preso na primeira oportunidade.
Quantos morreram na Operação Tigre? Mais de 100, dizia-se. “Mais de 200”, corrigiu tranqüilamente o ex-governador, numa conversa informal pouco antes de deixar o cargo. João Alberto nunca negou a matança. Na época apetecia-lhe a alcunha de Carcará, a ave de rapina com “mais coragem do que homem”, que “pega, mata e come”, segundo a canção imortal do poeta João do Valle.
Um dos que a Polícia pegou e comeu na Operação Tigre foi o graduado pistoleiro Zezé, amigo e auxiliar direto de Davi. Primeiro os PMs capturaram-lhe o filho e o forçaram sob tortura a conduzi-los ao esconderijo de Zezé numa fazenda distante. Lá prenderam Zezé e fuzilaram pai e filho.
Na beira da cova –– Davi ficou tão chocado que decretou luto oficial. Ao mesmo tempo começou a preparar os funerais do governador, anunciando aos comparsas que ele seria liquidado assim que deixasse o mandato. “Está resolvido”, disse ao jornalista o então deputado Raimundo Cabeludo, que tinha amizades e informantes entre os davinistas.
Antes que o governo acabasse, porém, João Alberto chamou o coronel Rocha a seu gabinete e ordenou-lhe que se antecipasse. Rocha tinha fama de pesporrente, mas dessa vez desconfiou que podia entrar numa fria. Foi correndo procurar o presidente da Assembléia, Ricardo Murad, justamente quem o havia indicado ao governador como homem ideal para emparedar o crime organizado em Imperatriz.
O coronel disse a Murad que só cumpriria a tarefa se tivesse a cobertura “dos dois poderes” – àquela altura, o Judiciário inerte não lhe interessava. “João Alberto está louco”, atalhou o deputado. “Nem pense nisso”. Seguiu-se um acordo, com a provável interveniência do ex-presidente Sarney, a confirmar. Ninguém mataria ninguém.
Lobão ganhou a eleição no segundo turno de 90, com apoio da esquerda. João Alberto candidatou-se a prefeito de São Luís em 1992, perdeu para Conceição Andrade, adiante elegeu-se senador em 1994 e 98.
Davi visitou Murad para agradecer-lhe as ponderações. Morreu em 1998, deputado federal candidato à reeleição, abatido a tiros por um de seus capangas. Sua frase mais famosa (dita certa vez a um ministro da Justiça) fora: “Não acredito em homem que não mata”. Em 94 ajudara a eleger Roseana. Quando morreu em 98 ajudava Cafeteira contra Roseana (que o desprezara depois da eleição de 94), sabendo que não tinha jeito.
Há poucos meses o editor do Colunão encontrou o coronel José Ruy Salomão Rocha num supermercado. Pediu-lhe um depoimento “histórico” sobre a Operação Tigre, argumentando até que a vida não lhes daria muito tempo. O coronel nem pensou para responder. “Eu não sou criança. Se eu lhe contar o que sei, você acaba comigo”.
O pior de tudo meu camsrada é que o PT, que sempre foi que combateu o crime, a injustiça e todos as formas de violencia. Sua cupula no Maranhao, esta ao lado desse sanguinário João Alberto. Mas ainda existe ainda o PT de vergonha
ResponderExcluirque marchara junto com Flavio Dino governador.
muito triste,sou vitima disso tudo,o pior é que a mentira sempre ,prevalecera !!!!
ResponderExcluirhoje exatamente 23 anos depois,ainda me doi lembrar dessa sujeira !!!!