10/05/2012

O Brasil perde Neiva Moreira

Morreu na madrugada de hoje (10/05) de complicações respiratórias o jornalista e ex-deputado federal Neiva Moreira (94 anos). Ex-presidente nacional do PDT, Neiva Moreira foi um incansável lutador contra a ditadura militar e todas as formas de opressão. No Maranhão, no Brasil e no Mundo, lutou em favor da democracia e da liberdade de imprensa. Com a morte de Neiva Moreira, o Maranhão perde o derradeiro ícone do trabalhismo e reserva moral do PDT no estado e no país.

Neiva Moreira trabalhou em grandes jornais nacionais como o Diário de Notícias, Diário da Noite, O Jornal e da revista O Cruzeiro. No Rio de Janeiro fundou o jornal O Panfleto e em seu retorno a São Luís fundou o Jornal do Povo. Escreveu vários livros sobre as lutas políticas da esquerda. No exílio na Bolívia, fundou os Cadernos do Terceiro Mundo, com jornalistas de vários países latino americanos.
Em 1979, após voltar do exílio, fundou no Maranhão o PDT, de onde não saiu mais até sua morte.

Conheça a trajetória de Neiva Moreira.

Neiva Moreira - (Jornalista e Deputado)
Neiva Moreira, José Guimarães (Nova Iorque, Maranhão – 1917) é um dos raros políticos brasileiros que marcaram sua ação tanto dentro do estado natal, o Maranhão, e do Brasil, como no exterior. Jornalista, publicista e político, Neiva teve uma atuação intensa nos países emergentes, transformando-se num dos grandes ativistas e teóricos do Terceiro Mundo, aquela parte do globo que, na época da guerra fria, pairava entre os antigos blocos Ocidental, comandado pelos Estados Unidos, e Socialista, liderado pela União Soviética.

Sua resistência heroica à conspiração que redundou na ditadura de 1964, ao liderar a Frente Parlamentar Nacionalista na Câmara dos Deputados, a partir de 1961, o aproximou de Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul e já transformado numa grande liderança popular. Os dois passaram a percorrer o país pregando as reformas de base do presidente João Goulart e articulando as forças nacionalistas contra o golpe que se avizinhava e que acabou se efetivando em 1º de abril de 1964, pois tinha atrás de si o envolvimento da maior potência estrangeira.

Neiva Moreira foi preso e depois obrigado a exilar-se na Bolívia, de onde depois se mudou para o Uruguai, para, novamente com Brizola, organizar a resistência à ditadura, que se prolongaria por 20 anos. Foi então que entendeu que a crise brasileira jamais seria enfrentada efetivamente sem a junção dos povos oprimidos, particularmente aqueles dos países vizinhos, que sofriam as mesmas pressões que os nossos.
Naquela época, começavam a pipocar os movimentos de libertação dos povos africanos, depois de séculos de dominação pelas potências europeias. Neiva se transporta para Argélia, Angola, Moçambique e outras áreas conflagradas, de onde não só escreveria a crônica de sua libertação como participaria diretamente de suas lutas, angústias e glória.
Paralelamente, ele assessora os governos nacionalistas do general Alvarado, no Peru, de Perón, na Argentina, regimes que depois seriam varridos pelas ditaduras que sufocariam praticamente toda a América Latina.

Na volta ao Brasil, com a decretação da anistia, Neiva Moreira, que antes travara lutas libertárias contra as oligarquias do Maranhão, primeiro como jornalista e depois como deputado, fez questão de retornar por São Luís, vindo do México, seu derradeiro exílio. Lá, implantou o PDT, partido que Leonel Brizola fundara ao chegar do exílio. Depois foi para o Rio de Janeiro, onde refundo os Cadernos do Terceiro Mundo, revista que lançara ainda em sua breve passagem pela Argentina e a continuara no México.

A história dos Cadernos do Terceiro Mundo, primeira publicação a tratar especificamente da questão dos países emergentes, se confunde com a própria vida atribulada de Neiva Moreira no exílio. Perseguido pelos grupos terroristas de direita que acabaram se apoderando da maioria daquelas nações, o velho maranhense às vezes era ultimado a deixar o país em 24 ou 48 horas, sob pena de ser assassinado, como ocorreu no Uruguai e depois na Argentina.

 Esta situação insólita lhe permitiu, juntamente com o faro de um dos melhores jornalistas brasileiros, penetrar a fundo na questão daqueles povos, fato que o levou a escrever vários livros memoráveis: O Nasserismo e a Revolução do Terceiro Mundo, para o qual entrevistou pessoalmente o presidente egípcio e líder nacionalista, general Gamal Abdel Nasser; Uruguai, Banda Oriental, Fronteiras do Mundo Livre, O Modelo Peruano e O Pilão da Madrugada, livros de memória, em depoimento a José Louzeiro.

Neiva Moreira foi presidente nacional do PDT, líder na Câmara por duas vezes, presidente da Comissão de Relações Exteriores e por fim tornou-se um dos principais assessores do governador do Maranhão, Jackson Lago, liderando do Palácio dos Leões a resistência à cassação de Lago, por fim consumada, em 2009, por pressões da oligarquia maranhense

Fonte: Entreatos

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