17/02/2012

EDMILSON SANCHES: "NÃO BASTA FICHA LIMPA; TEM DE HAVER ELEIÇÃO LIMPA, VOTO LIMPO... "

Exatamente 15 anos depois de ter sido iniciado, em fevereiro de 1997, como a campanha "Combatendo a Corrupção Eleitoral", o Projeto de Lei Popular 519/09, conhecido como "Lei da Ficha Limpa" chegou ao seu final e debutou em grande -- e esperado -- estilo: foi considerado inteiramente constitucional, valendo já para as eleições de 7 de outubro de 2012 (prefeitos, vice-prefeitos e vereadores). Foram sete votos a quatro. Bons de verbo, os minuistros do Supremo Tribunal Federal esgrimiram palavras, frases e raciocínios em favor ou em desfavor da causa popular. E como se iniciasse -- ou continuasse -- uma "onda ética", um tsunami moral, o Supremo deu um basta às especulações de que, mais uma vez, a esperança brasileira fosse adiada -- como ocorreu em 2010, quando a Lei, sancionada em 4 de junho daquele ano, não valeu para as eleições de presidente, governadores e seus vices, e parlamentares estaduais e federais. Foi uma frustração.

Sobre o assunto, republico o artigo "POLÍTICO QUE NÃO É CORRUPTO NÃO É CONFIÁVEL".

“Todos os canalhas são meus inimigos. Nada incomoda mais um canalha do que uma pessoa de bem. Fere a auto-estima do canalha saber que há pessoas corretas. (...) Pois bem, canalhas de todos os matizes: eu não sou como vocês! Ética, para mim, não é pose. Ética, para mim, não é bandeira eleitoral. Ética, para mim, não é construção artificial de uma imagem para uso externo. Ética para mim é compromisso de vida. Mas nem sei se, no meu caso, isso tem muito mérito, não. Se querem saber a verdade, acho mais meritório aquele que tem tendência para desvios, tendência para a canalhice, mas resiste, se controla, não pratica. Isso exige um esforço de vontade muito grande. É meritório. Para mim não, porque está no meu DNA, e agir eticamente, para mim, é tão natural quanto o ato de respirar.” (Jefferson Peres, senador, em discurso na tribuna do Senado Federal, em 30/10/2007)

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Depois de dez anos de vida política, pode-se chegar à consolidação de algumas impressões. Claro que falar de “consolidação” cheira a contradição, pois sabe-se que política -- com “p” minúsculo -- é terreno de areia movediça, charco pantanoso, lodo visguento quando não eticamente fétido.

Muitos do povo enojam-se ao perceberem a desenvoltura, a empáfia, a soberba, o ar de sabe-tudo, o autogozo de certos políticos que se consideram espertos, malandros, “flexíveis”, num nível de elastecimento moral que nem a própria Moral suporta... embora o Código Penal abrigue...

O pior é a quase-intolerância -- na verdade, intolerância, mesmo -- desse tipo de político em relação a quem eventualmente teime em entrar em “seu” mundo com padrões de vida ética e de prática política diferenciados. Parece que certos -- ou incertos -- políticos desenvolvem urticária, têm alergia para o novo, o diferente -- novo e diferente que são algo tão velho quanto pé de serra: o desejo de melhorar as coisas, ou, no mínimo, não se deixar piorar por causa delas. Os sem vergonha torcem o nariz para os que têm vergonha... Quem é ético é julgado e condenado, aprioristicamente, pelo que tem de positivo. É o caso de exclamar, como Cícero em sua primeira “Catilinária” contra a corrupção de seus contemporâneos, em 63 a. C: “O tempora! O mores!” (“Ó tempos! Ó costumes!”).

Parece haver uma disfarçada má-vontade de uns em relação as que querem uma boa prática política. Aquele cara que lhe chega hoje falando de boa notícia, oferecendo ajuda, chamando-o de “meu deputado”, “meu prefeito”, “meu governador”, é o mesmo que ainda ontem estava falando mal de você, fazendo pouco das pequenas vitórias do outro.

Coisa triste essa de pessoas que, pela frente, te dão tapinhas no ombro e, por trás, te dão socos na cara... O que pessoas assim pensam, o que pessoas assim acham que estão se tornando?

Agir de modo sem-vergonha na política não tem nada a ver com o exercício da Política, mas com a visão de mundo e, sobretudo, de vida dessas pessoas. O que leva pessoas a jogarem lama podre na Política é algo que deriva do que essas pessoas querem na vida: dinheiro, poder, ascensão social, manutenção de aparências, sobrevivência física... ou política. Fazem coisas e têm comportamentos que não desejariam ao filho que está no berço. Mas em política... pode.

Para os que escolhem o caminho menos desgraçado da política, sobra-lhes o ser apenas suportado, tolerado, num universo (a política) classificado, sob risos, como “cabaré”, onde “virgens” não podem entrar. Embora a força da imagem, até nisso erram factualmente, pois em muitas “casas de meretrício” as donzelas são desejadas e, até, leiloadas -- o que já trouxe tristes registros para Imperatriz.

Vale dizer, e a História confirma, que, assim como médicos atuam em corpos -- e mentes -- doentes, assim como religiosas juntam-se a leprosos, assim como a Lei é imposta para quem a transgride, assim o Bem tem de estar próximo do Mal, não para ser ele ou um deles, mas para reduzir o desequilíbrio de valores que a Divindade colocou à disposição da Humanidade, para que esta possa, verdadeiramente, evoluir.

Aqui é tudo tão passageiro... Mas as pessoas “vivas” e vilões acham que não: o fato de estarem vivas dá-lhes a presunção de que são eternas, blindadas, imorríveis. Humildade é só discurso, aparência. Na intimidade, a arrogância. O mal não aceita o bem, ou o menos mal -- como o bom não é tolerado pelo mau, como o feio é repugnado pelo bonito, como o branco tinha (tinha?!) preconceito contra o negro.

A Política está presente, direta e indiretamente, na vida de todo ser. Só isso já seria o suficiente para a política ser algo bom. O SPA (Sócrates, Platão, Aristóteles) da Política parece que não tem como tratar o corpo doente, desintoxicar a mente apequenada. Os que adoecem a Política parecem que não atinam que o que vai sobrar deles ao final é o exemplo, é o quanto resistiu ao poder de sedução do Mal, o quanto não se entregou à via fácil. Pactuar, sim; compactuar, não.

Na Política, cada um trabalha com o que é, com o que tem, com o que pode. Aquele que pouco tem, pouco pode, trabalha com o que é. Inventar falsos haveres torna só mais falsos os seres.

A Política é de todos, não de alguns. Estes não têm o direito de patentear a Política, registrá-la como sua. A Política não é a grosseria do “OU eu OU ele”, mas, sim, “eu E ele”. A Política é inclusiva, não excludente, ou exclusiva. A Política admite, e quer, o diferente -- e o “diferente”, no caso, é o que a Política é, ou deveria ser.

Já passou da hora de a política voltar a ser Política. A política pequena é a Política apequenada. A política pequena até pode ser praticada por grandes nomes, mas nem sempre grandes nomes são grandes exemplos de políticos.

É a pequena política que está arrastando o povo para a descrença na possibilidade do bem, do bom, do belo e do justo na Política. Os “políticos” que se comprazem disso são os mesmo que, explícita ou intimamente, detestam os que querem o melhor... como urubus que não sobrevivem sem algo de morto e podre à sua volta.
A política precisa mudar para a Política.

E acabar com essa história de que político que não é corrupto não é confiável.

Se for assim, acautelem-se os políticos: tem gente inconfiável perto de Vossas Excelências.

Ainda bem. Graças a Deus. (EDMILSON SANCHES)

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