Vale a pena ler esta análise do filósofo alemão Jurgem Habermas que ao lado do francês Michel Foucaut está entre os mais influentes pensadores do século XX. Habermas é filósofo progressista na linha neomarxista expoente da Escola de Frankfurt na Alemanha.
Filósofo alemão afirma que debate inspira força da extrema direita
Diante da crise econômica que assola a Europa, o filósofo alemão Jürgen Habermas afirmou na última quinta-feira (10), em Paris, que os problemas da União Europeia (UE) artem da falta de interação entre os cidadãos e a comunidade, relançando o debate sobre Europa e democracia.
"O cidadão deve, simultaneamente e com a mesma implicação, julgar e decidir politicamente como cidadão da União Europeia e como membro de um Estado nacional", afirmou Habermas durante uma conferência na Universidade Paris Descartes.
Entretanto, essa identidade comunitária é cada vez menor entre os europeus. O índice de abstenção nas últimas eleições para o Parlamento da UE em 2009, por exemplo, ficou em 56,99%.
Para combater essa tendência, Habermas defende a democratização da Europa pela inserção dos cidadãos nos debates políticos e econômicos.
"Quanto mais o indivíduo perceber como as decisões da UE influem na vida cotidiana, maior vai ser seu interesse em utilizar os direitos enquanto cidadão da comunidade, e mais ele vai estar atento ao que os chefes de governos negociam ou decidem", afirmou.
Os atuais problemas europeus - crise econômica, alto índice de desemprego, descrença nas forças políticas, insatisfação generalizada - são fatores que propiciam terreno fértil para a extrema direita e estimulam a crescente rejeição ao projeto comum europeu.
Para Habermas, só o populismo de direita, que começa a ganhar mais adeptos no velho continente, continua a projetar a caricatura das grandes questões nacionais e poderá bloquear qualquer formação para além das fronteiras.
Mas o filósofo foi categórico quando lembrou que "após 50 anos de imigração por trabalho, os povos europeus, diante de um crescente pluralismo étnico, linguístico e religioso, não podem mais ser imaginados como unidades culturais homogêneas".
Além disso, a forma como os dirigentes europeus trataram a crise do euro, com manobras dilatórias e sem solidariedade espontânea, pode ter contribuído com a rejeição crescente do projeto europeu, segundo o filósofo.
O alemão criticou abertamente o próprio país, afirmando que o governo da chanceler (premiê) Angela Merkel tornou-se "acelerador de uma 'dessolidarização' que atingiu a Europa".
Para o também filósofo Jean-Marc Ferry, presente na conferência, a Alemanha deveria iniciar um esquema de solidariedade internacional.
"Por uma década, os Estados do sul da Europa estimularam a economia alemã e permitiram que o país alcançasse a posição econômica confortável em que se encontra hoje. Agora, a Alemanha deve retribuir."
Ferry criticou a fragilidade das instituições da UE, como a Comissão Europeia, que seria apenas burocrática, e não política. "Enquanto isso, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy são os que governam a comunidade europeia."
Fonte: Folha UOL, em Paris
Editado por: Hugo Freitas
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