04/07/2010

Artigo: Por que odiar Argentina e amar europeus na Copa?

Por Carlos Hermes

Essa Copa do Mundo nos trouxe a necessidade de algumas reflexões. A Primeira é: qual a explicação lógica e real para os brasileiros odiarem tanto o futebol da Argentina? Segunda: até que ponto o ódio ao time, não se traduz inconscientemente em ódio ao país e aos cidadãos hermanos? E terceiro: a quem interessa usar o futebol para colocar em confronto duas das nações de economia emergentes na América latina?

Em busca de respostas às minhas inquietações tentei lançar um olhar antropológico sobre o comportamento do torcedor brasileiro, tendo como campo de observação o jogo das quartas de finais entre Argentinos e Alemães. Para tanto, agi como um etnógrafo que busca interpretar os traços culturais e as atitudes comportamentais de novas tribos se infiltrando entre seus membros, assim, escolhi o ambiente ideal: o Armazém Paraíba de Imperatriz lotado de consumidores torcedores que se dividiam entre as pechinchas e o jogo que passava em uma das enormes TVs à espera de compradores.

Incrível como a cada gol dos Alemães os consumidores, latinoamericanos com pouco dinheiro no bolso, iam ao delírio em gritos vibrantes como se fossem cidadãos da Alemanha. Do meu lado uma vendedora resmungava: Bem feito Maradona, quem mandou falar mal do Brasil?! E assim, os gestos se repetiam a cada gol dos germanos.

Fiquei preocupado em ver que Nicolau Maquiavel poderia estar certo ao dizer que a massa popular é de fácil manipulação por se guiar pela emoção e não pela razão, que é levada facilmente pelas aparências das coisas e nesse caso, ficou claro o imensurável fascínio que a mídia, leia-se: Rede Globo, exerce sobre o que pensa o que sente e como age o povo brasileiro.

O torcedor não quer saber do que está implícito na exaltação europeia por parte da mídia que controla o inconsciente coletivo usando de todo seu poder monopolista para nos fazer olhar os Argentinos como vilões da trama e que os holandeses(quem não se lembra dos heróicos laranja mecânica?), os italianos, alemães e franceses são os bons mocinhos.

Ao torcedor não interessa se fomos colonizados de forma arbitrária por esses países imperialistas no século XVI e que com sua ganância colonizou também a África no século XIX, provocando um genocídio entre os negros e deixando um lastro de miséria, epidemias e guerra civil.

Você pode estar dizendo: cara, mas isso é só futebol, que exagero! Esse é o cerne da problemática, o “torcedor massa” só consegue enxergar o futebol, quando há uma forte conexão entre os bastidores do capital e a política futebolística, que têm como interesse comum consolidar a dominação ideológica do onisciente e onipresente mercado, ratificando o que Karl Marx já dizia no século XIX: “A arma do opressor é a na mente do oprimido”.

Claro que como torcedor também tenho as minhas queixas da seleção argentina quando se trata da rixa com nosso futebol, contudo, na ausência do Brasil e diante do eurocentrismo do mercado do futebol, não tenha dúvidas, prevalecerá a minha raiz latinoamericana. E agora que além de nós já saíram, Paraguai e Argentina, só nos resta dizer: dá-lhe Uruguai!!

Carlos Hermes F. Cruz é historiador, pesquisador, especialista em Metodologia do Ensino Superior, professor da rede estadual de ensino de Imperatriz e do Programa Darcy Ribeiro da Uema.

4 comentários:

  1. Odiar a Argentina que é co irmã é uma bobagem igual querer que o vice governador obrigatoriamente seja de Imperatriz.

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  2. Anônimo00:38

    O brasileiro,em especial os jornalistas,se utilizam dessa hipocrisia e de uma quase xenofobia para inferiorizar e ridicularizar os paises mais pobres em especial os latinos e chamam essa prática de humor.Mas isso não é humor,isso é tentar mostrar uma superioridade em campo que não esportivos e que de fato não existe e para isso utilizam a copa do mundo como escudo.


    Toda essa argumentação de "isso é só humor"cai diante de uma simples pergunta:

    Por que não se faz esse tal "humor"
    com europeus ou norte-americanos?
    Excetuando-se o México que também é vítima dessas piadas.

    Muitas vezes eu lamento termos sido colonizados por portugueses,só pela lingua,sem comparações com outras colonizações, creio que para nós seria muito melhor termos sido explorados pela Espanha ou talvez pelos ingleses.

    Demos o azar de falar português enquanto todos os nossos vizinhos falam espanhol.Sendo que o idioma espanhol tem mais prestígio.

    Aprendemos que os espanhóis detonaram os índios.Mas em comparação os portugueses e seus bandeirantes foram muito mais eficientes nessa tarefa.Nos paises vizinhos a população tem traços índigenas bem marcados.Na nossa,não.Que não se fale em miscigenação.Foi dizimação mesmo!
    Eis uma coisa que alunos não aprendem na escola:para onde foram os índios?

    Voltando a malajambrada imprensa.A Globo me faz passar vergonha.Usa-
    ram essa temática com a Coréia depois com o time Africano.Depois com a Argentina resvalando com o Paraguai.

    Como explicar lá fora que não partilhamos dessa asnice?Como explicar aqui dentro que esse jornalismo é pouco confiável e nocivo ao receptor e a sociedade em geral e até aos nossos filhos?

    Um dos panos de fundo disso é debochar dos pobres e ser subserviente aos ricos.

    prof.Magno Urbano

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  3. Luciene Lucena11:49

    condordo plenamente com o artigo publicado, em nenhum momento a midia elogiou nossos hermanos, paraguaios, argentinos e uruguaios. E a propagação ideológica do imperalismo tenta fazer com que os brasileiros nao se sintam latinoamericanos, participantes da Pátria mãe: a nossa América Latina

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  4. Anônimo09:37

    Belo artigo, mas se tratando de futebol, sou obrigado a discordar, a grande maioria dos brasileiros, torceria a favor de qualquer time, seleção ou combinado de peladeiros que jogasse contra os argentinos. Rivalidade pura. Paixão e magia do futebol. O ópio do povo.

    Marcelo Lira

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