12/11/2012

Professores sofrem perseguição do governo em Itinga do Maranhão


Três professores da rede pública estadual de educação do Maranhão, lotados no Centro de Ensino Terezinha de Jesus Coelho Rocha, no município de Itinga, Sudoeste do estado, estão submetidos a processo administrativo disciplinar, aberto pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), como punição por suposto apoio a manifestação pública de estudantes, que reivindicam melhorias na gestão da escola.
Os professores Abdenego dos Santos Ribeiro, Joselda Gonçalves do Nascimento e Augusto César Dantas Dias se sentem injustiçados, prejudicados e perseguidos pela direção da escola e negam qualquer participação em ato dos estudantes.
O processo disciplinar foi aberto após denúncia da Unidade Regional de Açailândia (URE/SEDUC), baseada em relatos de membros da direção da escola de que os professores teriam “incitados os alunos a invadirem o prédio”, na noite do dia 20 de setembro deste ano.
O que causa estranheza é que, de acordo com o próprio boletim de ocorrência feito pela direção, no momento do protesto dos alunos, os professores não estavam na escola, pois não era dia de aula deles, porém, no momento da manifestação, foram convocados para o prédio, pela direção, sob o argumento de que representantes da URE queriam ouvi-los.
Outro fato que chama a atenção no processo disciplinar é que, até o momento, só há relatórios feitos por representantes do governo. Só há versão dos professores em depoimento colhido pelo Ministério Público Estadual. Faltam relatórios administrativos com a versão dos professores, que foram afastados, pela Seduc, de suas atividades na escola, com a seguinte justificativa: “...a fim de que não venham a influir na apuração dos fatos narrados nos autos do processo”. Com isso, conclui-se que somente a narração (versão) dos gestores pode influir na apuração. Os professores devem ser mantidos alheios ao processo.

Professores são dirigentes sindicais

Os três educadores também são dirigentes sindicais, membros do núcleo do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Maranhão (Sinproesemma), em Itinga, e participam, ativamente, das atividades em defesa da categoria, papel que têm legitimidade para desempenhá-lo, enquanto dirigentes sindicais. Na greve de 2011, cumpriram o legítimo dever de mobilizar e orientar a categoria e estiveram sempre à frente do movimento.
Para o presidente do Sinproesemma, Júlio Pinheiro, a atitude da direção da escola configura perseguição política. “Não aceitamos esse tipo de comportamento, de retaliação aos professores. São características da ditadura militar, onde os profissionais eram tratados como criminosos somente por terem pensamentos diferentes da gestão escolar. Por isso, defendemos eleição direta para diretor, onde a comunidade escolar faz sua escolha, democraticamente. Acreditamos que assim é possível diálogo e interação entre todos os setores que compõem a escola”, defende o professor.

Prejudicados querem ampla defesa

Segundo a educadora Joselda Gonçalves, a direção do centro de ensino não gosta dos professores e quer tirá-los da escola somente porque são sindicalistas. Ela defende que haja oportunidades de defesa para os professores nesse processo.
“É uma perseguição nos moldes do regime militar, onde só a palavra dos gestores é considerada. Não temos nada a ver com os problemas entre os estudantes e a direção. Apenas somos benquistos pelos alunos, porque desempenhamos bem nosso papel de professores na educação pública. Fomos pegos de surpresa com esse processo e até então não entendemos os motivos dessa punição, que só tem sentido pelo fato de sermos membros do núcleo sindical. Esperamos ser ouvidos e que nos seja concedida ampla defesa, pois o sentimento que temos é de grande injustiça por parte do governo”, desabafa a professora.
“O fato de sermos queridos e respeitados pelos alunos causa mal-estar na direção. Mas, não temos culpa se os estudantes não gostam da forma como são tratados por membros da diretoria. Eles só querem respeito. Não há motivos para a direção nos tratar como criminosos, nos envolvendo em atos que são dos estudantes, somente com o intuito de nos prejudicar. Somos educadores e temos responsabilidade na formação de nossos alunos”, ressalta a educadora.
Abaixo, o texto de uma carta, na íntegra, escrita e divulgada pelos estudantes, esclarecendo a sociedade sobre os motivos pelos quais fizeram protesto contra a direção da escola. A carta foi escrita pelos alunos, em setembro, no período em que se manifestavam contra a direção da escola.
EDUCAÇÃO EM PROTESTO
UMA CARTA DE ESCLARECIMENTO


- NÓS ALUNOS DA ESCOLA CE - TEREZINHA DE JESUS COELHO ROCHA, VIEMOS ATRAVÉS DESTE, ESCLARECER A POPULAÇÃO DO ITINGA DO MARANHÃO, OS MOTIVOS QUE NOS LEVARAM A PARALISAR NOSSAS ATIVIDADES EM SALA DE AULA E IRMOS ÀS RUAS EM PROTESTO.

- A DIREÇÃO DA ESCOLA EXPÓS DELIBERADAMENTE SEU PENSAMENTO EM RELAÇÃO AOS ALUNOS QUE ESTUDAM À NOITE NOS CHAMANDO DE "VÂNDALOS, BADERNEIROS, SEM COMPROMISSO E QUE SÓ SERVE PARA ATRAPALHAR A ESCOLA".

- A DIREÇÃO DA ESCOLA NÃO PERMITIU QUE OS ALUNOS DA NOITE FORMASSEM O PELOTÃO "TODOS UNIDOS PELA EDUCAÇÃO", CHEGANDO AO PONTO DE TIRAR A FAIXA À FORÇA DA MÃO DOS ALUNOS.

- A DIREÇÃO DA ESCOLA COBRA XÉROX DE NÓS ALUNOS, SENDO QUE QUANDO VAMOS MATRICULAR TEM UMA LISTA DE MATERIAL QUE TEMOS QUE ENTREGAR, INCLUINDO PAPEL CHAMEX.

- A DIREÇÃO DA ESCOLA AUTORIZOU A COBRANÇA DE AULA DE REFORÇO UTILIZANDO O PRÉDIO DA ESCOLA E PROFESSORES JÁ PAGO PELO ESTADO.

-A DIREÇÃO DA ESCOLA AUTORIZOU A REALIZAÇÃO DE FESTA NA ESCOLA COM VENDAS DE BEBIDAS ALCOÓLICAS, PARA QUALQUER ALUNO, INDEPENDENTE DA IDADE.

- OS ALUNOS NÃO TEM VOZ, ATÉ OS PROJETOS A DIREÇÃO INTERFERE DE MANEIRA QUE DESMOTIVA A GENTE A FREQUENTAR A ESCOLA.

- DIANTE DO EXPOSTO, NÓS REPUDIAMOS OS ATOS DA DIREÇÃO, QUEREMOS SER OUVIDOS, SAÍMOS DA ESCOLA E FOMOS PARA A RUA ECOAR NOSSO GRITO.

- QUEREMOS ESCLARECER A TODA A COMUNIDADE OS REAIS MOTIVOS DA NOSSA MANIFESTAÇÃO.

- ESTAMOS VOLTANDO PARA AS NOSSAS SALAS DE AULA, MAS O PROTESTO CONTINUA EM SILÊNCIO, SOMOS ESTUDANTES E SÓ QUEREMOS SER RESPEITADOS.

Alunos do C.E. Terezinha de Jesus Coelho Rocha

Fonte: Simproesemma

COMENTÁRIO DO BLOG: Uma verdadeira aberração a mente desses "gestores" educacionais anacrônicos e carcomidos que se sentem com um fuzil na mão em pleno regime militar. Já está passando da hora de mudarmos essa situação.  Na verdade são criminosos quando tentam impedir a organização estudantil já que a Lei dos Grêmios Livres sancionada ainda em 1985, período de reabertura política do país, garante totalmente o direito de organização dos estudantes proibindo qualquer ingerencia de agentes externos. Mais inaceitável ainda é a perseguição sindical.
  

Um comentário:

  1. Anônimo19:23

    Carlos, aproveitando tua matéria sobre educação, vou deixar aí o link de um texto meu. Se tu puder, ajuda a divulgar. Bertone

    http://bertonesousa.wordpress.com/2012/11/12/a-importancia-e-o-perigo-das-ciencias-sociais/#more-202

    ResponderExcluir

Fique à vontade e seja bem vindo ao debate!