12/01/2012

Carta de Repúdio ao Assassinato do Professor Cleides Antônio Amorim

Do blog Abimael Costa

            
Carta de Repúdio ao Assassinato do Professor Cleides Antônio Amorim



Depois da morte, todo mundo fica bonzinho, assim diz um velho provérbio popular. Seco, duro, parcial, acrítico; esse tipo de pensamento não pode, nem deve ser aplicado a toda e qualquer situação. Cada ser humano que passa na terra deixa marcas boas e ruins, a morte não exprime juízo favorável ou desfavorável sobre o que nós somos; as pessoas é que fazem isso.

Sem a menor sombra de dúvida o professor Cleides nunca foi uma unanimidade como profissional, nem como pessoa, mas citando o velho Nelson Rodrigues "Na hora de odiar, ou de matar, ou de morrer, ou simplesmente de pensar os homens se aglomeram. (...) A opinião unânime está a um milímetro do erro, do equívoco, da iniquidade. (...) Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Cleides jamais quis ser uma unanimidade.

Independentemente de opiniões divergentes, ele era uma pessoa extremamente dedicada àquilo que fazia, o seu bom trabalho é fruto da competência, do “saber fazer” que ele possuía e aplicava ao seu ofício de professor e pesquisador. Esse legado vai permanecer, pois ato nenhum de ignorância, covardia ou violência vai apagá-lo.

A xenofobia, a eugenia, o preconceito, o comodismo, a ignorância e tantas outras gangrenas existem em todos os seres humanos, não importa o quanto alguém possa parecer, demonstrar ou ser genial e instruído, aprendi isso com ele.
 
O que fazer contra as gangrenas sociais e morais de ditos seres humanos que, quando não são vigiados, portam-se de forma pior que animais selvagens?

Para desgraça da humanidade existem seres que destroem tudo o que não conhecem, são indivíduos desprezíveis e doentes que para estabelecer o sentimento de sua falsa dignidade têm a necessidade de se expressar através da violência, de forma covarde. 

O homem que já descobriu a partícula que viaja mais rápido que a luz, que concebe a possibilidade do universo ser infinito ainda não encontrou remédio para a estupidez humana, para o ódio gratuito, para o preconceito.
Em tese, deveria ser desnecessário que um texto desse teor fosse escrito, pois infelizmente todos os seres humanos estão sujeitos a atos de violência, no entanto, o silêncio numa situação dessas seria deveras negligente diante de um crime motivado por homofobia.

 Não existe nada mais estúpido do que uma pessoa se achar superior a outra por ter concepções de sexualidade, religiosidade, política, time de futebol, etc. Estupidez dobrada é alguém se achar no direito de agredir quem pensa ou age diferente dele. A embriaguez do assassino não é desculpa, não explica, não justifica.

 O pedido que se faz urgente e que não pode ser silenciado é o de justiça. Justiça pela vida do educador que foi privado de lecionar, do pesquisador que foi tolhido de futuras publicações científicas, do companheiro que deixará uma cadeira vazia nas rodas de amigos, do ser humano que teve sua vida interrompida por um ato de ignorância e preconceito doentio. 



*Michel Boaes, graduado em Pedagogia pelo Grupo Santa Fé-Faculdade.


Cleides Antonio Amorim possuía graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (1996) e mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2001). Atualmente era professor assistente e coordenador do Curso de Ciências Sociais da Fundação Universidade Federal do Tocantins (campus de Tocantinópolis). Lecionou também, na Universidade Estadual do Maranhão, Universidade Federal do Maranhão, Universidade de Ensino Superior Dom Bosco, Grupo Santa Fé e Instituto Superior de Educação.Todos os IES localizados em São Luis, Maranhão .Tinha bastante experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia da Religião e da Saúde, Sociologia da Educação, Metodologia da Pesquisa em Ciências sociais, atuando principalmente nos temas: tambor de mina, tradição, modernidade, medicina popular, educação, relações étnicas.
Cleides foi vítima de um crime de cunho homofóbico ocorrido na madrugada do dia 05 de janeiro em Tocantinópolis.


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