“Em torno de Marx” é o mais novo livro de Leandro Konder*, publicado pela editora Boitempo.
Um resumo
Ao longo do último século, modificações impressionantes ocorreram. Em ritmo vertiginoso, os computadores transformaram as condições de trabalho de um número crescente de pessoas. A “indústria cultural” ganhou influência por meio da manipulação do entretenimento. Com todas essas mudanças o pensamento marxiano vem sendo submetido a uma severa revisão. Os que usam as ideias do mestre, ou simpatizam com elas, manifestam certa perplexidade. O marxismo morreu? Se ainda está vivo, onde se acham seus principais centros de elaboração teórica?
Leandro Konder se debruça sobre essa questão buscando um enfoque novo. Marx se tornou uma celebridade por suas intervenções polêmicas no campo da história, na crítica da economia política, na análise das lutas de classes e na mudança das relações de produção. Entretanto, um aspecto de sua contribuição à construção do conhecimento na cultura do Ocidente ficou subaproveitado: a dimensão filosófica.
O livro é dividido em três partes. A primeira explora os temas da moral e da religião, da história e da dialética, passando pelo da morte, sempre dialogando em torno de Marx. A segunda abre espaço para reflexões sobre Adorno, Marcuse, Sartre, Benjamin, Lukács e Gramsci, autores vitais da linhagem iniciada pelo filósofo alemão e que tanto influenciaram Konder. A terceira parte retoma formulações sobre o marxismo brasileiro nas primeiras décadas da República, mostrando também, como contraponto, um pouco da cara de nossa direita.
Para o autor, houve um inevitável prejuízo na avaliação do alcance de conceitos políticos, econômicos e históricos que se apoiavam em concepções teóricas – mais especificamente filosóficas – que não haviam assimilado toda a importância das ideias de Marx sobre o homem e a história. Lukacsiano desde suas primeiras produções, Leandro Konder teve papel de relevo, junto com Carlos Nelson Coutinho e José Paulo Netto, na introdução do filósofo húngaro em nosso país. Navegando como um mestre, da filosofia à política e à crítica literária, com um texto claro e elegante, Leandro formou uma ampla geração de marxistas brasileiros. Em sua trajetória posterior, acercou-se das ricas formulações ontológicas de Gramsci e também de autores frankfurtianos como Adorno, Marcuse e Benjamin.
Os personagens da história do marxismo, que se destacaram pela qualidade de seu pensamento, são bastante conhecidos e pagaram um preço alto por sua independência. Uma recuperação da criatividade e do vigor crítico do pensamento radical de Marx depende desses teóricos ousados, pois são eles que o mantêm vivo; mas, para ser coerente com sua concepção da história, para ressurgir com toda a força no campo de batalha, o marxismo precisa encontrar nos movimentos sociais seu “exército”, seus “portadores materiais”, aos quais leva sua perspectiva revolucionária. É o encontro da ação com a teoria – aquilo que Marx chamou de práxis.
Numa época em que Marx, ao mesmo tempo que está ontologicamente atualíssimo, permanece sepulto e enterrado epistemologicamente por muitas escolas da irrazão, a publicação deste novo livro de Leandro Konder é um convite aberto para que seus leitores possam redescobrir Marx.
Trecho
A concepção do homem em Marx é clara: o homem é o sujeito da práxis, que existe transformando o mundo e a si mesmo. É um ser que inventa a si mesmo, por isso às vezes nos surpreende e escapa. Na confusão criada hoje em dia pelo capitalismo, os indivíduos se libertam de grilhões envelhecidos, mas assumem outros vínculos, novos grilhões, que também os aprisionam. Bertolt Brecht, em sua Mãe coragem e seus filhos8, põe em cena uma mulher do povo que descobre que pode fazer da guerra um bom negócio, porém a guerra vai lhe matando os filhos. Não foi por acaso que Brecht disse certa vez que Marx era o espectador ideal de suas peças.
*Sobre o autor
Leandro Konder nasceu em 1936, em Petrópolis (RJ), filho de Valério Konder, médico sanitarista e líder comunista. Formado em Direito, Leandro exilou-se em 1972, após ser preso e torturado pelo regime militar, e morou na Alemanha e depois na França até seu regresso ao Brasil em 1978. Doutorou-se em Filosofia em 1987 no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. É professor do Departamento de Educação da PUC-RJ e do Departamento de História da UFF. Tem vasta produção como conferencista, articulista de jornais, ensaísta e ficcionista. Em 2002 foi eleito o Intelectual do Ano pelo Fórum do Rio de Janeiro, da UERJ. Um dos maiores estudiosos do marxismo no país, é autor, entre outras obras, de Sobre o amor(Boitempo, 2007), As artes da palavra – elementos para uma poética marxista (Boitempo, 2005), A questão da ideologia (Companhia das Letras, 2000), Barão de Itararé, o humorista da democracia(Brasiliense, 1982) e Os marxistas e a arte (Civilização Brasileira, 1967).
Lançamento do livro no Rio de Janeiro
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