25/01/2011

ALÉM DE ESCRITORES

Por Luís Diniz
Sir William Burrougs e sua pistola.
É Dostoievski encarando o pelotão de fuzilamento. Na África, entre mercadores e camêlos, Rimbaud procurando emprego. É Kafka caminhando burocraticamente pelas ruas de Praga. Borges caindo vertigisonamente no abismo de seus pesadelos indecifráveis. Ligia Fagundes Telles pressentindo o exato momento da morte de Clarice Lispector. Poe urinando e soluçando sem parar numa esquina de Boston. São Graciliano Ramos e Oscar Wilde na cadeia. Hemingway se suicidando com uma arma de caça. Kerouac chapado num programa de entrevistas de uma TV italiana: "Você é linda, garota. Você é Fernanda Pivano?". Baudelaire fumando ópio sob uma noite estrelada. Raduam Nassar abandonando a literatura para criar galinhas num sítio em São Paulo. É o exímio atirador William Burrougs mirando o copo de whisky em cima da cabeça de sua namorada e vagarosamente apertando o gatilho até atirar e acertá-la na testa. Lima Barreto dormindo bêbado num bar do Rio. Jack London cruzando o Pacífico Sul num veleiro. Sousândrade imaginando uma Nova York em Alcântara. É Hunter Thompson cheirando a última fileira de cocaína. Camus no banco detrás de um Facel-Véga pensando num título de um livro minutos antes do carro capotar na rodovia entre Marcelha e Paris. A foto da Ana Cristina César acariciando um gatinho na Baixada Maranhense. Haroldo de Campos no banheiro gritando para a sua mãe trazer a toalha de banho bordada com o seu nome. Maiakovski, numa faísca de pensamento, cunhando a frase É melhor morrer de vodka do que de tédio. É o vagabundo iluminado Neal Cassady roubando seu trigésimo carro décadas antes do poeta Ferreira Gullar interromper uma conferência sobre o Poema Sujo para atender uma ligação do senador José Sarney.

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